sábado, 29 de novembro de 2014

A Odisséia Ébria


A exaustão da Terra havia me alcançado, havia me domado e tornado-me seu prisioneiro. Em um momento de descuido, conseguir romper com as correntes e pulei a cerca para o jardim desconhecido. Já em terra nova, caminhei em nuvens de seda, nuvens de borracha, pontes de ar. Eu vi o céu azul-celeste contrastando com afluentes de rosas, roxos, verdes e outros tons. Me fiz de andarilho pelo arco-iris do céu, enquanto tudo termina em cinzas no solo dos mortos. Cada vez mais perto do fim, o arco-iris foi se tornando mais quente. Suas cores estavam mais vivas. Eu estava mais vívido que um parede de luz alcoólica. Uma parede de algodão colorida e repleta de lágrimas de luzes. 

O odor de álcool. 
O odor da cerveja. 
A dor da certeza. 

Enfeitiçado como um néscio, fui engolido pela luz. Cuspido pelo fogo, quando Deus me deixou entrar. 

Me tornei um deus duvidoso. Quem iria limpar minha cama? Quem iria varrer o meu templo? Quem iria avivar minha chama?

Me tornei a solitária energia do Rock e a melancolia dos fados portugueses. Em bares com putas e cafetões, experimentei o sabor ardente do pecado original. Com homens bêbados em bares, me inebriei em meu nirvana sozinho, entre outros deuses da música e da solidão. Senti o enjoo do vinho e partes do meu fígado se espalharam em uma calçada de giz.

Senti os cigarros dos mafiosos formarem cortinas de fumaça no papel de parede dos pubs. Presenciei advogados contestando seus próprios argumentos de incisos, enquanto bebiam cerveja belga tal como leite. Homens de meia-idade fodiam com garotas de dez anos e mães vendiam partes dos seus filhos para universidades de medicina. A face hilariante do orgulho e desprezo dos pobres estampavam as ruas, enquanto pensavam que animal de estimação assariam em sua panela.

Coisas boas surgiam das sombras e malefícios nasciam na luz.

Fui empurrado para o Templo dos Deuses de Cera e ele se chamava "Coração dos Pobres". Quem não conhece a deficiência desses deuses que então se arremesse nesse templo. Eu presenciei a risada dos mendigos, enquanto apenas sonhavam com mesas de vinho.

Haviam pessoas cheias quando na solidão e vazias na presença de outros. A companhia da felicidade do som de si é a verdadeira fé. Isso é algo que morrerá conosco: a fé.

A fé existe para revelar o futuro e  a verdade suprema. O verdadeiro presente que Deus deixou para trás.

Pois no fim, sabemos que é tarde demais. Sempre foi e sempre será... tarde demais.

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