sexta-feira, 5 de setembro de 2014

A Ilha do Homem Invisível

 

Um dia, morarei numa ilha. Numa fazenda isolada, única, num lugar deserto. Minha casa será rústica. Quase um refúgio de alvenaria, em tijolinhos nus de tonalidade clara e assoalho de madeira de lei. Um fogão quatro bocas e, surpreendentemente, elétrico. Uma chaleira, um bule, uma mesa de madeira interiorana. Uma vitrola ao lado de uma estante de livros (pois o silencio é divino, mas a vida sem alguma música, em algum momento, se torna insossa demais). Obviamente contarei com o prazer de um cômodo, um recinto amplo e confortável, onde irei instalar a minha biblioteca particular com inúmeros livros, em inúmeros idiomas, em várias instantes de madeira à perder de vista. 

   De um lado da casa ouço mugidos: são vacas (instaladas na grama claramente verde e extensa do meu celeiro), No outro lado da casa, um homem velho, magro, de cabelos brancos, suéter vermelho e olhar profundo se encontra parado diante da minha janela de madeira, que está aberta (acho que ele abriu, pois eu sempre a mantenho fechada). Ele contempla a extensa praia de areia fina e clara e de espumosa água azul-planeta que quebram suas ondas próximas da superfície. Nenhum pássaro, avião ou asa-delta se interpõe. Esse homem olha ininterruptamente para a praia. Me surpreendo com ele, pois imaginei estar sozinho. Imaginei estar solitário da humanidade, como eu sempre desejei. Quem é esse homem? Não o conheço de canto algum. Até minha família deixou de existir. Quem é esse homem? Uma voz me alerta "Ele é o homem que tudo vê." Me sinto intrigado com isso. "Como ele pode ser o homem que tudo vê, se ele não me vê?", questiono. 

   De fato, ele não vê a mim, que estou à poucos metros dele. Para ele eu devo ser como névoa, poeira, ou uma coisa mais fina (e invisível). Então, percebo aliviado: "Sim. Estou sozinho. Estou com Deus. Ou seja, estou na luz"

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